Resumo

Enterococcus resistentes à vancomicina (VRE) são, em geral, das espécies E. faecium e E. faecalis, responsáveis pela maioria das infecções clínicas humanas. No Brasil, a maioria de VRE isolada é E. faecium contendo o transposon Tn1546, que confere alta resistência a vancomicina e teicoplanina. Durante 6 meses de um programa de vigilância em um hospital em Belo Horizonte, 63 VRE foram isolados, sendo que 47 eram E. faecium, 15 E. faecalis e 1 (VRE48) não era nenhuma das espécies estudadas (E. faecium, E. faecalis, E. casseliflavus e E. gallinarum) pelo multiplex-PCR. Todas apresentaram o gene vanA. O objetivo deste trabalho foi identificar a espécie da VRE48, caracterizar molecularmente seu transposon e determinar os perfis de sensibilidade e virulência. Pela análise do RNAr 16S com broad range primers P13B e PJB-1F e comparação com o banco de dados Ribossomal Database Project observou-se 98% de identidade com as seguintes espécies do grupo E. avium: E. avium, E. raffinosus. E. malodoratus e E. pseudoavium. Foi realizado então o sequenciamento de uma região do gene rpoA (RNA polymerase alpha subunit) que nos forneceu 99% de identidade com as linhagens E. raffinosus LMG12888 e LMG12172. A amostra VRE48 apresentou uma inserção entre os genes vanY e vanZ do Elemento VanA de ~1500 pb. Perfil de sensibilidade realizado por Etest apresentou resistência à vancomicina, teicoplanina, eritromicina, ampicilina e penicilina. Foi apenas sensível à tetraciclina e linezolida. Dentre os genes de fatores de virulência estudados (esp, hialuronidase -hyl, gelatinase -gelE, adesina -acm, substância de agregação -asc10 e asa1 e citolisina -cyl), VRE48 apresentou apenas o gene esp envolvido com a formação de biofilmes em E. faecium. Apresentou padrão de alfa-hemólise em ágar Müeller Hinton suplementado com 5% de sangue humano e não apresentou hidrólise de proteínas do leite em ágar leite desnatado. E. raffinosus resistente à vancomicina é raro e poucos casos foram relatados em outros países. No Brasil, este é o primeiro relato e, visto que sistemas automatizados podem não conter esta espécie em bancos de dados, profissionais de saúde devem estar alerta, já que esta espécie apresenta potencial de carrear genes de resistência e virulência, como o Tn1546 que confere a resistência à vancomicina e o gene esp.